S. F. Oliveira (2015) Poder de Sedução. http://poderseduzir.weebly.com/
Todos os textos foram escritos em 2014.
APARECER E PROVOCAR
Existem vários truques para APARECER, basta utilizar:
. joias (em excesso);
. decotes maiores e (mini) saias (menores);
. anabolizantes e camisetas apertadas;
. carros maiores (no desespero, obviamente, com cores como o amarelo ou o vermelho);
. palavras incomuns (para dar a impressão que sabe mais do que o outro);
Aparecer não é difícil. O complicado é que trata-se de um ato de provocação. Aqui está o problema.
O que deseja provocar no outro? Inveja, raiva, rancor?
Tais sentimentos voltarão contra quem quis ser o destaque na multidão.
O carro enorme (diferente e importado) chama a atenção dos ladrões e dos sequestradores.
O decote, a minissaia e o salto alto impressionam as amigas, seduzem os “bons partidos” mas também atraem os olhares dos invejosos e estupradores.
Os anabolizantes e camisetas apertadas representam um convite para brigas e agressões.
Em outras palavras, as pessoas são livres e usam o que desejam sem necessariamente ter “segundas intenções”.
Entretanto, existe pouco espaço para ingenuidade no mundo adulto atual.
Se deseja provocar os outros, pelo menos tenha consciência que ocorrerão consequências (essas podem ser bem diferentes das que foram imaginadas inicialmente).
VIRGINDADE E INGENUIDADE
Fez sexo. Paga o preço. Não me refiro ao sexo pago, DST ou qualquer coisa assim.
O pior é a vingança “emocional”.
Nunca tive problemas com as virgens. Nem elas comigo. Os pais nem sempre concordavam com todo o processo. Para mim, não fazia diferença, dificilmente eles desejariam um cara com o meu perfil para ser o futuro das filhas.
Não ter problemas com as virgens, claro, significa criar sérios problemas no futuro. Trata-se de muita ingenuidade mexer em um nível deste de intimidade e imaginar que sairá “ileso”.
Ao longo da minha vida, me envolvi com algumas garotas “neste” estágio e sofri quase todas as consequências imagináveis. Quase todas.
Acredito que nem as garotas tenham a dimensão da questão, afinal, já ouvi uma dizer algo como: “se não fosse ‘x’, estaria virgem até hoje.” De imediato, fiquei com pena de “x”. Depois soube detalhes de tudo que ele sofreu posteriormente. Ingênuo. Já fui assim.
Trata-se de uma problemática complexa e que foi bastante banalizada ao longo dos anos.
SEDUÇÃO FEMININA
Os seios caracterizam a feminilidade. Os travestis colocam silicones. Muitos não querem perder os seus falos. Querem ter a atratividade feminina sem perder a ereção (símbolo da masculinidade).
Depois de algum tempo, as mulheres passaram a usar também o silicone. Queriam confirmar a feminilidade e reforçar a atratividade.
Os seios hipnotizam os homens. Eles, numa conversa, perdem a concentração diante de um belo decote. As mulheres sabem disto. Elas usam isso como mecanismo “de argumentação” (ou, pelo menos, “de distração”). Algumas se dizem ofendidas com os olhares insistentes que procuram os belos decotes. É uma contradição. É, ao mesmo tempo, um direito delas de se sentirem indignadas.
Lembra a velha teoria do estupro: não é porque uma mulher veste uma mini-saia bastante curta, com generosos decotes e ainda seduz com danças que envergonharia uma profissional de strip-tease, que tudo isso justificaria a violência sexual.
A mulher tem o direito de se vestir e se comportar como quiser, obviamente, sem que isso signifique um convite ao sexo com o outro ou com a outra.
A sedução feminina é um algo maravilhoso.
É algo que faz a vida ter algum sentido.
SEDUTORAS: MÃES E FILHAS
É comum um homem na crise da meia idade tentar “recuperar a juventude” namorando uma garota muito jovem.
Algo parecido acontece com garotas novas, entre 30 e 40 anos, mas que casaram, tiveram filhos (e filhas) e, portanto, sentiram as mudanças no corpo (das escolhas feitas e da própria idade).
Elas eram lindas e costumavam atrair todos os olhares.
Após o casamento, filhos (e filhas), ainda são atraentes, mas percebem as mudanças.
Não estão mais “no primeiro plano” dos olhares.
As abordagens (cantadas) ficaram diferentes.
Serem casadas reforçavam as intenções masculinas de resumir tudo ao sexo.
Os maridos, normalmente apaixonados por elas e pelas famílias, não representavam sérios obstáculos aos casos de infidelidade.
Para elas, o que parecia incomodar mesmo era o fato de ter perdido “o brilho da adolescência”, o fascínio associado ao mito da “Lolita”.
Com os casos de infidelidade (assim como os homens nas crises de meia idade), tentavam “ter a antiga vida de volta”. Tentavam recuperar “os anos dourados” da própria história de vida.
As coisas pioravam quando as suas filhas tornavam-se adolescentes e passavam a ser vistas (pelas mães) como concorrentes.
Já ouvi (sem perguntar) amigas dizendo que sentiam-se mais atraentes e sedutoras do que as suas filhas de 18 anos.
Elas, na verdade, continuavam, na prática, jovens, entre 30 e 40 anos, mas, ao mesmo tempo, mostravam-se tão frustradas, tão tristes e ainda tão ingênuas.
SEXO, PASSADO E NOVIDADE
“Não dar”, do ponto de vista das relações sociais, parece ser bom para a garota (e, claro, é péssimo para o rapaz).
Uma explicação estaria no fato de que a relação sexual, por mais que esteja associada a um caráter informal e sem grande importância, representa, em si, um grau de intimidade que dificilmente pode ser esquecido.
O foco do homem, nesta área, é a novidade. Pode ser a garota mais linda, mas, obviamente (para a maioria) como qualquer uma, sempre esquecida em nome das infinitas possibilidades que aparecem no futuro.
O futuro não existe e as possibilidades raramente são confirmadas. Contudo, no caso do homem, parece ser mais interessante se apegar a ilusão do futuro do que carregar o peso do passado.
Neste contexto, a única exceção seria (talvez) a experiência do sexo pago. Aqui o dinheiro ganha uma representação talvez maior do que o sexo. Por isso, para ambos, será antes de tudo uma experiência esquecida.
Qualquer homem que tenha vivido o sexo consensual (com esposas, namoradas, “ficantes” e afins) e o sexo pago, provavelmente, chegará a mesma conclusão: lembrará nomes, momentos, cheiros, sorrisos e detalhes sempre das relações consensuais.
Quanto ao sexo pago, dificilmente lembrará mais do que 10 % do que efetivamente aconteceu (para isso nem precisa existir um grande consumo de álcool ou de cocaína).
Isso é facilmente confirmado quando ele fica com a mesma garota de programa (GP) numa segunda vez sem saber que já havia ficado com ela antes. A GP não se importa. É até melhor para ela, afinal, ele precisa sempre de novidade.
AMOR, SEXO & "STALKER"
O filme “Vanilla Sky” não deu certo. Muita pretensão e pouco resultado. Pareceu interessante, porém, a ideia inicial, ou seja, a relação complexa existente entre o mundo real e o mundo dos sonhos.
No filme, o personagem “David” tem um caso com uma bela garota – que é apaixonada por ele -, “Julie”. Ele não assume a relação e a trata como “fuck buddy”. Quando parte para outra relação, ela, com ele no carro, tenta (no caso dela, consegue) o suicídio. Antes, ela afirma:
“Don't you know that when you sleep with someone, your body makes a promise whether you do or not.”
Ele a trata como “stalker”. Interessante.
Quando uma mulher é apaixonada por um homem e ele aproveita a situação para, sem assumir coisa alguma, fazer sexo; ele a trata como “stalker”, doida, “aquela com quem eu só faço sexo” e assim por diante.*
O homem acredita que ele pode fazer sexo com uma garota apaixonada (quantas vezes ele quiser) e, sem retribuir o amor, pode ainda sair da relação quando quiser, sem problema algum. Ingenuidade.
O homem é “educado” para ficar com todas, fazer sexo sem envolvimento, e, mesmo depois de casado, praticar a infidelidade como “um direito natural do universo masculino”.
Neste contexto, ele não percebe que uma mulher não gosta de “one night stand” e que quando faz sexo, quer fazer amor. Essas são duas palavras que mudam tudo: sexo e amor.
Seguir o instinto egoísta de um animal selvagem não livra o homem de sofrer as consequências dos atos numa sociedade civilizada, quando o que seria “natural” passa a ser usado para fins de dominação, manipulação e poder.
Em outras palavras, o homem pode ser naturalmente mais forte, mas isso faz pouca diferença numa sociedade do ato e da palavra.
Insistir no instinto selvagem, além das consequências de uma relação “amorosa” mal sucedida, pode levar o homem a ser excluído do jogo social com a punição da exclusão (cadeia mesmo).
É um risco. É um preço. Ou aprende as regras da civilidade (se isso é bom ou não, pouca importa) ou não pode “brincar” de conviver na sociedade.
Parece razoável.
Sobre o filme e a “stalker”, as dicas são óbvias: evite fazer sexo com uma pessoa apaixonada se a intenção não for um comprometimento verdadeiro numa relação a dois.
(*) Quem conhece o meu cotidiano, claro, sabe que já tive algumas “stalkers” e que as consequências destas relações podem gerar crises bem sérias para todos os envolvidos.
O ALVO DA RELAÇÃO AMOROSA
A relação amorosa é um mito na medida em que ela está associada aos valores positivos como amor, prazer, amizade, respeito, companheirismo, entre outros.
Esta imagem é construída.
O processo começa com o objetivo no sentido de criar uma imagem que não corresponderia à realidade. O objetivo é exercer o poder, dominar o outro.
Para que isso ocorra, é necessário usar principalmente truques de atratividade e dissimulações. Aqui, vale quase tudo: falsos sorrisos, olhares, gestos, roupas, carros, mansões, drogas (sobretudo o álcool), remédios (para emagrecer ou ganhar massa muscular), entre outras estratégias.
Tudo isso deve ser adequado ao alvo.
É necessário um plano bem elaborado, tempo e paciência.
Após tanto trabalho, a pessoa aparece “naturalmente” com a “cara metade” da outra. O “amor” acontece. O alvo foi atingido.
Depois de algum tempo, já emocionalmente envolvido, o “alvo” pode perceber que caiu em uma armadilha, ou seja, ao invés de amor, prazer e amizade, o cotidiano da relação é marcado por reclamações, brigas bobas, atrasos, “caras feias”, cobranças, inseguranças, ciúmes e até mesmo atos de infidelidade.
O “alvo”, racionalmente, pode acabar com todo o sofrimento a qualquer hora. Entretanto, existe o lado emocional, o “alvo” está apaixonado, tornou-se escravo da vontade do outro.
Saber de todo o processo só faz a dor aumentar. Não por fim ao relacionamento “amoroso” (por causa do envolvimento emocional) só aumenta a sensação de impotência.
Não é o fim do mundo, claro. Quem nunca passou por algo semelhante, pode um dia passar... O dominador pode ter o seu dia de “alvo”.
Quem sabe? Como diz a letra de uma música do Led Zeppelin:
“your time is gonna come...”
ATRAÇÃO POR MULHER QUE GOSTA DE MULHER: O PONTO DE VISTA DE UM HOMEM
Quem já viveu um “ménage à trois”, obviamente, lidou com uma pessoa bissexual. No caso de um homem e duas mulheres, pode ser bastante complicada a atração por uma garota bissexual.
Esse tipo de garota tende a gostar mais de mulheres. O problema, para o homem, é que ele, diante de uma bela garota, sempre vê uma mulher atraente e sedutora (não importa se ela se interessa só por mulheres).
Aqui a relação fica desigual porque a garota pode usar os seus jogos de sedução mesmo sem a mínima intenção de ficar com o homem. Ele torna-se um alvo fácil.
Quanto maior a impossibilidade da conquista (ela, de fato, não gosta de ter relações sexuais com homens), mais aumenta a atração e a necessidade de “realizar amor”.
O homem, neste tipo de situação, não percebe que entrou numa armadilha. Caso se apaixone pela garota que não gosta de homens, claro, transformará algo ruim em uma coisa bem pior com possibilidades reais de finais trágicos.
Isso significa também que a garota (que gosta de mulheres e seduz homens) não possui tanto poder que imaginava. Não é difícil enganar e manipular um homem apaixonado. O complicado será lidar com a sua ira ao perceber que foi só um fantoche em todo o processo e, pior, que, no final, teria “sido trocado” por uma mulher na batalha pelo amor da garota (que, de fato, sempre gostou mesmo foi das mulheres).
V MAS NÃO DE VENDETTA
Uma criança associa, inicialmente, o amor aos pais, aos familiares e aos amigos. Ela, depois, aprende que existe uma relação diferente, pela qual chama de namoro. Nesta fase, não parece agradável descobrir que os beijos “de verdade” teriam o contato das línguas dos envolvidos. O pior, posteriormente (quando a história da cegonha deixou de fazer sentido), seria descobrir que existiriam “beijos” ainda nos órgãos sexuais.
Uma afirmação pode ser problematizada neste contexto:
. uma amiga gay, recentemente, disse que se uma vagina não fosse totalmente depilada, isso seria um sinal de falta de higiene.
1. Ela, muito provavelmente, estava vendo a vagina como um lugar para beijar, colocar a boca (por causa de sua opção sexual).
2. Não via a vagina como um órgão que seria parte do sistema reprodutor da mulher (portanto, a sua função primordial não seria “receber beijos”).
A mulher (como animal) possui pelos. Antes da função estética, os pelos fazem parte da dinâmica de preservação e proteção do próprio corpo. Como fêmea, ela possui menos pelos do que o homem.
Trata-se de uma percepção cultural associar o excesso de pelos à higiene. Em cada época, aliás, é aceita uma forma específica do corpo como objeto de desejo valorizado na sociedade.
No caso da mulher, nas últimas décadas, houve o tempo em que eram valorizadas as curvas e as mulheres mais “cheias”.
Depois veio a ênfase do estilo modelo “cabide”, ou seja, o elogio da mulher bem magra.
Neste período, foi criticado bastante o “heroin chic” (década de 1990) porque resultaria em doenças graves como anorexia e bulimia. Era confirma, aqui, a terrível pressão contra as mulheres no sentido de perder peso.
Além da associação com o consumo de drogas e uma visão niilista da vida, o “heroin chic” estava associado ainda ao incentivo da androginia (que pode ser associada ao exemplo do início deste texto).
A questão, basicamente, estaria além do debate entre o que seria “natural” e o que seria “social”. O problema seria a criação de doenças e sofrimentos em função de regras inventadas na sociedade que não teriam como objetivo contribuir com o bem estar da pessoa (ao contrário, a meta, por exemplo, nos modismos, quase sempre, é vender e produzir lucro para uma minoria).
AMOR, PÚBLICO & PRIVADO
Não é novidade a história de garotas que dormem na primeira noite com patrões (ou chefes) e depois reclamam que o tratamento do dia seguinte não seria o mesmo da noite anterior.
Durante o dia, havia uma relação de trabalho, algo profissional. Se houve alguma coisa depois do expediente, isso teria sido opção dos dois que resolveram fazer algo em comum no tempo livre que tinham.
Público. Privado. Duas esferas distintas.
O que deveria ser claro para os dois, na prática, não funciona desta maneira.
O patrão (ou chefe), normalmente bem mais velho, não se envolveria com uma bela jovem caso não possuísse também o poder econômico. Por outro lado, nem sempre uma bela garota teria acesso a lugares exclusivos e caros (mais viagens e belos presentes), se continuasse a sair só com gente da sua idade.
Isso, obviamente, não representa uma lei universal.
Mais uma vez, no caso dos adultos, haveria pouco espaço para ingenuidade.
Tanto de um lado como do outro, no entanto, pode ocorrer algum “mal entendido”.
É comum a garota se sentir usada ou o velho se apaixonar e, posteriormente, ficar indignado ao compreender que sem o poder econômico não haveria relação alguma com a garota.
Existe um complicador nos dois casos. Trata-se do que chamam de emoção.
Qualquer cenário em que a razão deveria predominar pode ser completamente comprometido quando a emoção entra em jogo.
O cinismo, a ironia, a omissão, a mentira e os jogos de poder, claro, fazem parte dos jogos que existem entre os civilizados.
De imediato, ninguém reclama. Ao contrário, quando o vento está a favor, parece bem divertido utilizar tais mecanismos.
Neste momento, não é levado em conta que a máquina do jogo não é uma máquina, ao contrário, trata só de um ser humano.
Em outras palavras, as falhas logo entrarão em cena. Os castelos de cartas desabarão.
Aqui, para muitos, chegaria o momento de evitar a autocrítica e encontrar um culpado por tudo: o velho ou a bela jovem.
Bobagem. Eram adultos no início do jogo e deveriam permanecer assim no final também.
Não dá... por causa do elemento que foi desconsiderado durante toda a partida: a emoção.
A partir dela e da derrota na relação amorosa, outra personagem entra em cena: a loucura.
O perdedor, em sua vingança, pode fazer qualquer coisa (até matar quem antes era o ser mais amado do planeta).
Se o perdedor foi abandonado por um concorrente, fica pior, porque outra personagem invadiria o cenário: a inveja.
Alguém poderia lembrar do ciúme.
Contudo, ele nunca precisou entrar no palco do jogo amoroso porque nunca deixou de estar ali desde o primeiro momento.
A diferença seria que, inicialmente, o ciúme aparecia como algo que produzia excitação. Era bem-vindo. Depois, porém, ele vem como uma arma que justificaria a morte do outro (tanto no plano simbólico como no mundo real).
Como diriam alguns pensadores, sim, a relação amorosa é antes de qualquer coisa uma relação que um morre para o outro seguir em frente.
Pode parecer exagero.
Mas, nos dias atuais (quando a sutileza raramente aparece), bastaria ler os jornais e identificar as reações daqueles que não aceitam perder e carregar para si a condição de rejeitados.
São ingênuos em sua violência e no seu instinto de destruição. Afinal, não há como existir e não ser rejeitado. Ou seja, ao nascer, isso vale para todos, o ser humano é colocado cara a cara com a primeira e mais importante rejeição: nasceu para morrer, nasceu para saber que, algum dia, necessariamente, não existirá mais. E, muito importante, não existe nada que possa fazer quanto a essa realidade.
UMA OPINIÃO SOBRE AS GAROTAS
Envelhecer faz parte do desenvolvimento do ser humano, mas algumas garotas perdem cedo demais tanto a naturalidade e a beleza do sorriso assim como os brilhos nos olhos.
Isso fica claro ao olhar dos homens (que foram educados no sentido de apreciar a beleza feminina).
Não existe uma única explicação para o processo.
Alguns diriam que as meninas amadurecem cada vez mais cedo. Parece ser verdade. Incentivadas pelo consumismo, elas querem parecer (e ser) adultas antes do tempo.
Existe um alto preço ao “pular” uma etapa da vida (como a infância ou a adolescência).
Trata-se, portanto, de uma hipótese razoável.
Algumas garotas tornam-se mães antes mesmo de viver plenamente a adolescência. Não casam, continuam morando com os pais, e os seus filhos e suas filhas, na prática, são criados com múltiplas figuras de autoridade (o que pode significar exatamente a ausência de autoridade).
Filhas criadas em ambientes assim podem ficar confusas quanto ao seu lugar na família e no que diz respeito ao seu papel diante da sua mãe biológica.
Em outras palavras, muitas vezes, mãe e filha parecem mais irmãs. Isso é complicado porque não é verdade. Só faz aumentar a confusão quando existe a necessidade de se ter uma mãe verdadeira e, no lugar, o que existe seria a figura de “uma irmã” (ou de “uma amiga”).
A ausência do pai biológico (que não participa daquele ambiente familiar) não facilita as relações entra “as meninas”. A mãe não é casada e, portanto, tem o direito de namorar (como qualquer adolescente). Ela tem o direito de mudar de namorado. O problema é como tudo isso seria percebido emocionalmente pela filha que mora com a mãe na casa dos avós.
Em relações aos homens, existem mães “tradicionais” (casadas, com maridos e assim por diante) que enxergam as filhas como rivais no processo de sedução. Esse processo pode ocorrer também nos casos das filhas que são criadas (junto com as mães) no ambiente familiar dos avós.
Tudo isso não quer dizer que existam brigas e conflitos explícitos. Os danos emocionais são feitos e percebidos inconscientemente. Nas aparências, nos olhares de uns e dos outros, tudo parece normal, compreensível e aceitável.
Entretanto, com o tempo, as pessoas (que convivem num mesmo ambiente familiar) podem apresentar sintomas de dores que não aparecem nos exames médicos.
Torna-se difícil explicar a falta de apetite ou a insônia. Por outro lado, aparece um caminho no sentido de compreender a perda da motivação, da beleza do sorriso ou dos antigos brilhos nos olhos.
PODER DE SEDUÇÃO
Ainda, em pleno século XXI, existe gente que acredita que a culpa pelo estupro seria da mulher, que não se vestia adequadamente e “pedia” para ser violentada. Ridículo.
O problema é que, historicamente, até o século XIX, as mulheres vestiam discretamente e não ousavam mostrar as pernas em público. O uso de cosméticos era visto como algo associado às prostitutas. Isso mudou.
De acordo com o historiador Eric Hobsbawm (no livro “The Age of Empire”):
“Tudo o que sabemos é que a moda das mulheres que influenciou os setores emancipados do Ocidente após a Primeira Guerra Mundial, e que assumiu temas previstos no meio da "vanguarda" antes de 1914, nomeadamente nas áreas boêmias e artísticas de grandes cidades, foi o resultado da combinação de dois elementos muito diferentes.” (p. 217)
Primeiro, apareceu a mudança quanto ao uso de cosméticos:
“Por um lado, "a geração jazz" do pós-guerra que apareceu em público com o uso de cosméticos, estratégia de beleza que era previamente uma característica de mulheres cuja função exclusiva seria agradar aos homens (como as prostitutas). Os cosméticos passaram a ser exibidos em partes do corpo, começando com as pernas, o que as convenções da modéstia da sexual feminina do século XIX mantiveram longe dos olhos dos machos.” (p. 217-218)
Em segundo lugar, as mudanças na maneira de vestir da mulher revelou também um anseio por mais liberdade:
“Por outro lado, a moda do pós-guerra minimizou as características sexuais secundárias que distinguiam visualmente as mulheres dos homens visivelmente, seja quanto ao cortar de cabelo ou quanto ao destaque dado aos seus decotes. Como as saias curtas, os espartilhos foram abandonados, e a recém-descoberta facilidade de movimento, tudo isso significava um sinal e um pedido de mais liberdade.” (p. 218)
Essa liberdade aumentou bastante depois de 1945 e, principalmente, após os avanços do feminismo na década de1960.
Mais direitos... menos roupas e mais poder no jogo de sedução com o homem? Seria isso?
Essa sedução pode levar ao que os ingleses chamam de “dick-teaser”. Trata-se daquele momento que a mulher “brinca” com o homem fingindo que deseja ter uma relação sexual com ele. O pior, nesta situação, é que quanto mais irritado o rapaz fica, mais a garota sente prazer porque percebe que o seu jogo de sedução deu certo. Quem nunca passou por algo parecido? Em nome da civilização, do respeito ao próximo, etc, o rapaz é obrigado a recuar e ainda pode ouvir “tome uma ducha fria que melhora”. Ser civilizado não é fácil.
Frequento bares que as clientes costumam, alcoolizadas, subir no balcão para dançar (como naquele filme “Show Bar”). Na maioria dos casos, estão de mini-saia, roupa decotada e salto alto. Além disto, talvez influência dos vídeo-clips, elas fazem questão de dançar como as antigas garotas de strip-tease (essas atuais, coitadas, nem imagino o que fazem mais para chamar a atenção). Nada contra. Aliás, algumas vezes comento (brincando, por favor!!) com o barman: “cara, antes eu tinha que pagar uma grana para ver uma cena desta numa boite.”
O que fazer? O fato é que a sociedade muda. Agora seria necessário problematizar aquela velha afirmação de que o homem exerceria o poder e a mulher seria só o segundo sexo... Mudou, certo? Ou não?
EX-NAMORO E INTERNET
Se a intenção é não ser descoberto; mentir, trair e cometer crimes tornaram-se tarefas mais difíceis atualmente.
Quem nunca, durante o namoro, na empolgação e na confiança, não tirou algumas fotos mais ousadas ou mesmo gravou alguns vídeos.
O problema, claro, é que hoje tudo isso pode ir parar na internet e alguns momentos que eram íntimos viram, de uma hora para outra, material de domínio público. Todos (familiares, amigos e desconhecidos) podem acessar as fotos ou vídeos.
Conteúdo privado na esfera pública, naturalmente, significa constrangimento (para dizer o mínimo).
Isso pode acontecer de várias maneiras, seja o roubo de algum celular (ou máquina digital) seja (o que tem ficado bastante comum) a iniciativa de um ex-namorado que não aceitou o fim do relacionamento.
O fim imediato de um namorado gera rancor principalmente quando um dos dois vê o outro com outra (o). O que era amor torna-se numa passe de mágica em raiva, inveja e vontade de vingança.
Antigamente, sem a internet, tudo ficava nas fofocas (sem provas). Com as redes sociais hoje, o que era do casal vira público e processar o outro não resolve o que já aconteceu: todos tiveram acesso as cenas mais íntimas dos (até então) apaixonados.
Algumas celebridades (ou aqueles que desejam a fama) colocam propositalmente tais materiais na internet e, depois, alegam que tudo “fora vazado” sem o consentimento das partes envolvidas. É meio patético, mas acontece.
Depois do escândalo do primeiro vídeo que foi para a internet, a Paris Hilton, por exemplo, não se importou muito de expor a sua intimidade diante das câmeras sobretudo no seu cotidiano entre quatro paredes.
Risco ou desejo? Depende de cada um. A pessoa escolhe quem vai namorar e, assim, em quem deposita a sua confiança. Ela é responsável por essa escolha e pelas possíveis consequências. Apelar para a ingenuidade, num mundo globalizado como o atual, parece não convencer muita gente.
JACKY CHAMOUN: "SELFIE" E CHOQUE DE CULTURAS
Toda garota, em qualquer parte do planeta, gosta de ser admirada pela sua beleza. Aqui no Brasil, por exemplo, existe até orgulho quando falam que “as mulheres brasileiras são as mais bonitas do mundo”. A maioria, aqui, não se importa se as modelos brasileiras (ou atletas) aparecem nuas na mídia internacional.
Isso, porém, não acontece em todo país. De fato, existe um “choque de culturas”, para dizer o mínimo, entre as visões de mundo do Ocidente e do Oriente. Neste sentido, foi interessante, com o noticiário sobre as olimpíadas de inverno, a polêmica envolvendo uma esquiadora:
“Jacky Chamoun criou desconforto com seu país ao fazer topless na neve, no Líbano.”*
A diferença de culturas, citada inicialmente, aparece no texto do Lancenet:
“O Líbano é um dos países menos conservadores do Oriente Médio, mas, ainda assim, o Ministério da Juventude e do Esporte do país, por meio de seu ministro Faycal Karamé, solicitou que o Comitê Olímpico do Líbano investigue o caso como forma de ‘proteção à reputação do país.’”*
Por um lado, a reação da garota foi esclarecer que a sua atitude não representaria necessariamente o seu país:
“(...) a esquiadora divulgou comunicado pedindo desculpas pelo ocorrido e dizendo que as imagens feitas não refletem a cultura do país.”*
Antes, ela havia dado entrevistas falando abertamente a sua opinião, ou seja, que não se arrependia, tinha gostado das fotos e que sabia que, ao digitar o nome dela na internet, ela estaria associada também a esse material:
“Foi positivo para mim. Eu não me arrependo de nada. Quando iniciei meu trabalho, por exemplo, as pessoas procuram por mim na internet e as vezes encontram essas fotos diretamente, então você pensa que pode não ser a melhor coisa, a melhor imagem que você pode oferecer para alguém, mas eu não me importo. Eu gostei e não me arrependo, gosto das fotos e não tenho problemas com isso.”*
Existem realmente muitas fotos e vídeos de Jacky Chamoun na internet, seja como atleta, seja como modelo, seja, como qualquer garota, naquele estilo “selfie” (que a pessoa tira foto dela mesma – aliás, até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já participou deste tipo de brincadeira).
Houve “muito barulho por nada”? Talvez. Mas, por outro lado, não há como negar que por trás de tudo isso existe o fato de que, em eventos internacionais, quando pessoas de diferentes países se encontram, aparecem as culturas e (quase) todos aprendem com todos e ainda problematizam as próprias visões de mundo, percebendo que algumas coisas que seriam consideradas equivocadas em seus locais de origem, poderiam, aos olhos dos outros, de outros lugares, seriam percebidas como naturais e corretas.
(*) Leia mais no LANCENET!http://www.lancenet.com.br/minuto/Jacky_Chamoun-Libano-Topless-Jogos_Sochi-2014_0_1083491663.html#ixzz2tETUSXLr
AS MULHERES, OS HOMENS E O PODER
As mulheres mentem melhor que os homens. Pode ser lenda. De qualquer maneira, uma personagem, no filme “Closer” (“Mais Perto”), diz algo como “mentir é a coisa mais divertida para garota sem ela ter que tirar as roupas.”
Um jogo de poder normalmente precisa do uso da lógica e de, entre outras coisas, mentir, enganar, seduzir e dissimular.
Certamente o fascínio pelo poder não é exclusivo das mulheres. Ao contrário, basta olhar na direção das esferas oficias do poder, as mulheres quase não aparecem, como se o poder público fosse uma arena para homens.
Houve uma inversão quanto ao pressuposto inicial. Os homens, então, mentiriam melhor que as mulheres?
De fato, essas são, de um ponto de vista geral, problemáticas desnecessárias.
O que interessa é que retirando a violência como técnica de definir um vencedor, foi preciso, no mundo civilizado, inventar outra estratégia de luta: aqui aparece a política (no sentido amplo e não somente do ponto de vista dos partidos políticos).
As relações, entre civilizados, são políticas, tratam do discurso e da ação (Hannah Arendt).
No discurso explicitamente baseado na filosofia de Michel Foucault, o poder deixa de ser algo exclusivo do espaço público na medida em que ele faria parte de todas as relações. Não seria somente uma luta pelo Estado.
Assim, as mulheres retornariam ao jogo político com seus disfarces (como maquiagem e cirurgias), suas estratégias discursivas e seus silêncios. Alguns diriam que, na esfera privada (entre quatro paredes), elas “massacrariam” os homens, tornando-os, por causa da libido, meros fantoches no sentido da realização dos seus desejos.
"Lying is the most fun a girl can have without taking her clothes off, but it's better if you do."
Talvez seja verdade...
A VINGANÇA DO EX
É comum ver nos noticiários, aqui no Brasil, maridos ou namorados que assassinam as suas exs por não aceitarem o fim dos relacionamentos. É difícil compreender como o que era o amor torna-se ódio.
Uma hipótese razoável seria que a relação amorosa antes de ser baseada em sentimento seria, na verdade, uma relação de poder. A educação machista contribuiria bastante para esse processo.
Por motivos óbvios, durante a relação amorosa, a confiança e a cumplicidade fazem parte de um acordo implícito entre os envolvidos.
Se uma garota sozinha, com o seu celular, é capaz de tirar fotos sensuais em frente ao espelho, num namoro, ela não achará estranho tirar fotos ou gravar vídeos com o namorado como forma de “incrementar” a relação.
Agindo pela emoção, a garota esquece, muitas vezes, que o namoro pode terminar. Quando isso acontece, raramente a separação ocorre em um clima amigável. O que era amor “vira” rancor, raiva, inveja e vingança.
Além do constrangimento do fim da relação, o pior, para garota, pode estar vir. Existem websites que incentivam os exs no sentido de divulgar as fotos e vídeos de intimidade do casal. É o caso de GF Revenge (Girl-Friend Revenge). O recado, aqui, é claro: “tenha uma doce vingança contra a sua ex-namorada submetendo fotos de nudez em troca de dinheiro!” *
Visitar o website significa perceber que não são poucas as garotas que confiam nos namorados e nem são poucos exs que utilizam a insegurança e o rancor como pretexto para comprometer a imagem dos seus antigos amores.
(*) GF Revenge: Get sweet revenge on your ex girlfriend by submitting nudie pics for $$$ CASH!
AS MENINAS CRESCEM
Tive vários amigos, na adolescência, que eram bastante machistas e adoravam utilizar frases como “ser virgem é bobagem”, “toda garota tem de dar mesmo”, “toda mulher deve posar nua”, entre outras. Eles cresceram, casaram, tornaram-se pais, tiveram filhas e mudaram completamente a postura.
Chega a ser constrangedor ouvir um indivíduo falando que o sonho seria ver a filha casar virgem e na igreja – no passado, aliás, a mesma pessoa fumava maconha e dizia “pérolas” como “casamento é para babaca” ou “se eu tivesse filha, ela podia fazer sexo toda hora”.
As meninas crescem. Aprendem o poder da sedução. Tiram fotos no espelho. Querem se sentir desejadas. Elas fazem 18 anos. Confiam nos namorados. O que fazer? Diante de tal dilema, Renato Gaúcho, ex-jogador de futebol e conhecido pelo machismo e por ser um paquerador, mandou a filha - Carol Portaluppi - passar uma temporada nos Estados Unidos após serem divulgadas fotos nuas da garota. O interessante é que o próprio Gaúcho tirou várias fotos com a filha – com biquínis minúsculos – nas praias brasileiras. A “ingenuidade” teria sido do pai ou da filha ou dos dois? A visão do pai seria diferente da postura do homem – algo como “com a do vizinho pode mas com a minha não”?
Outros paqueradores famosos passaram por situações semelhantes. Mick Jagger tentou convencer uma de suas filhas de que não seria adequado posar nua para a Playboy. Não deu certo. A própria mãe da garota e ex-esposa de Jagger já havia posado nua.
As filhas de Keith Richards são modelos e tiraram fotos sensuais mostrando os seios. Richards, famoso “bad boy” dos Rolling Stones, não reclama (aparentemente). No máximo, intimida os namorados das filhas mostrando as suas habilidades com um punhal.
A filha de John Taylor (Duran Duran) também é modelo, fuma e bebe muito e diz que o pai seria muito “parado” e só falaria do “Discovery Channel” (bem diferente da imagem de playboy que ele tinha no auge do grupo pop).
Talvez o ponto central desta discussão seja a educação diferenciada para meninos e meninas pautada numa concepção (ainda) machista de sociedade. Não seria de estranhar o incômodo vivido por pais (com suas filhas) que antes, quando garotos, queriam só se divertir e “transar” com todas.
A SOLIDÃO
Acho fantástica a música escolhida pelos torcedores do Liverpool: "You'll Never Walk Alone" (“Você nunca caminhará sozinho”). Ela reforça a ideia de união, de grupo e de clube. Mais do que isso, ela dá a impressão que o indivíduo nunca estará sozinho (na vitória ou na derrota).
Na sociedade, de fato, o indivíduo, desde o nascimento, é “protegido” por grupos inventados pelos homens no sentido de combater a solidão: os familiares, os amigos, os colegas da igreja, as turmas nas escolas, entre tantos outros exemplos.
A solidão, implicitamente, é vista como inimiga. Ela deve ser evitada. O indivíduo necessita estar protegido por outros indivíduos.
Trata-se de uma ilusão. O indivíduo nasce e morre sozinho. A companhia de várias pessoas no seu quarto de hospital não altera o que seria a sua passagem para “a outra dimensão”. Essa é uma tarefa que será feita só por ele.
O indivíduo comum, pela sua própria formação, evita a solidão. Ele prefere estar no meio dos grupos e das multidões. Não importa se a sua solidão torna-se mais clara mesmo quando está com inúmeras pessoas em sua volta. Ele prefere assim. Acredita que isso evita o pior: pensar em si mesmo.
O irônico é que participar dos tais grupos (familiares, amigos, colegas da igreja ou turmas nas escolas) significa se submeter a regras. Existem listas do que se pode fazer ou não, por exemplo, em um grupo de adolescentes.
Este processo, na fase de desenvolvimento do indivíduo, pode ser rompido quando chega o namoro. O que era um grupo torna-se um casal. Muitas vezes, esse casal fecha em si mesmo. Dispensa ou é dispensado pelo grupo que participava. Pouco importa.
A emoção predomina no casal, naquele tipo que namora verdadeiramente, que é fiel, que não consegue imaginar o futuro um sem o outro.
Se o namoro demora anos, ocorre, obviamente, o distanciamento do antigo grupo.
Esquecem os amigos e são esquecidos por eles.
O problema aparece com o fim do namoro. O indivíduo (pode ser pela primeira vez) encontra-se sozinho. Bate o desespero. A solução, normalmente, seria começar (o mais rápido possível) outro namoro. Isso funcionaria até que um dia o que era namoro vira casamento e (muitas vezes) com filhos.
O divórcio é quase uma certeza, mas (neste contexto) parece ser secundário porque o indivíduo terá que lidar sempre com a ex e com os filhos, enfim, não ficará sozinho.
Não ficar sozinho, envolver-se com os problemas dos filhos nas escolhas (entre outras coisas), não significa não viver na solidão.
No final, alienado ao longo da vida pelos aparelhos ideológicos do Estado, o indivíduo, a qualquer momento, mesmo no meio de uma multidão, se dá conta da própria solidão. Ele olha em sua volta e não reconhece coisa alguma exceto falsidades, traições e conspirações.
O indivíduo, neste momento, pensa se realmente valeu a pena sacrificar o seu desejo para obedecer as regras impostas por todos os grupos pelos quais passou. Ele percebe que deixou de viver a sua vida em nome dos outros para não ficar sozinho e, no final, o que ele efetivamente sente é a solidão, algo que não sabe explicar e que os outros não querem saber.
O chato não é sentir a dor da solidão ou saber que a morte é a única certeza. O complicado é ter deixado de ser ele mesmo, é ter deixado de fazer as próprias escolhas, é ter deixado de ter vivido os seus verdadeiros desejos (tudo em nome de leis e normas ditadas por pessoas - de grupos – que, na primeira oportunidade, o deixariam sozinho, irreconhecível, sem uma identidade).
APARÊNCIAS E JOGOS
As pessoas gostam de aparecer. Elas precisam disto. Elas não existiriam sem os olhares dos outros. Muitas acreditam nisto.
Não importa se são olhares “moralistas”. Não importa se são condenadas pelos conhecidos e pelos desconhecidos. É necessário aparecer.
A existência, neste sentido, só seria confirmada pelos outros.
A existência só seria confirmada pela visibilidade.
Se aparecer é tão importante, cuidar da aparência do corpo seria fundamental. Todos os recursos e truques (maquiagem, tatuagem, botox, silicone, entre tantos outros) seriam válidos.
Tudo, no final, vira um jogo de aparência.
O primeiro contato, neste contexto, é feito pela aparência, Na medida em que ela é produzida, ela não é verdadeira, ela não representa o corpo como ele é (ou era originalmente).
Em um segundo momento, existindo interesse, vem a conversa. Aqui surgem novos truques: olhares, gestos e sorrisos são mecanismos para disfarçar (ou reforçar) aquilo que foi dito (ou não). A conversa não é verdadeira. Não pode ser. Assim como a produção da aparência, a conversa é “preparada” antes, quase ensaiada, com o uso de expressões e a repetição de palavras.
As pessoas sentem-se como personagens de novelas ou de filmes. Esquecem, algumas vezes, quem são. Misturam-se tanto com os seus personagens que acreditam que são verdadeiramente as máscaras que aparecem nos espelhos.
Culpam os outros quando algo dá errado. Esquecem que os outros também são personagens, são figuras produzidas para aparecer e possuem falas e poses prontas para o contato social.
No meio de tanto ensaio e produção, o que se perde é a vida real. Aquela… do aqui e do agora... Aquela... que não possui “replay”...
Talvez seja essa mesma a intenção deste “circo social”.
Em outras palavras, apesar dos esforços, no fundo, essas pessoas fogem de si e não querem saber dos outros.
QUEM ENGANA QUEM
O otário é a “pessoa que é enganada com facilidade.” * Ou seja, ser enganado significa ser otário, o que serve para quem vive na ilusão ou cria fantasias de si e dos outros.
Imagine uma pessoa que casa com uma mulher virgem e após cinco anos de casamento, supostos prazeres e filhos, essa pessoa descobre que a sua esposa seria incapaz de ter orgasmo ou prazer sexual com o outro. O divórcio não resolve o fato de ter vivido e acreditado em algo que não existia durante tanto tempo. Essa pessoa foi enganada.
“É fácil enganar quem quer ser enganado”, diria Maquiavel. Enganar alguém pode parecer divertido. Mas existe a perspectiva do outro lado: ser otário não é bom. Um samba antigo do Luiz Ayrão dizia: “se ela faz com ele, vai fazer comigo. E vai fazer comigo exatamente igual.” É isso.
Quem engana, de certa forma, deixa de ser civilizado. O excesso de egoísmo e a falta de interação com o outro revelam, na prática, fragilidades do ser humano.
Em outras palavras, seria como se tal indivíduo não tivesse evoluído e permanecesse selvagem. Uma palavra, utilizada na sociedade, pode ser associada a este tipo de comportamento: barbárie.
(*) Ver: http://www.dicio.com.br/otario/
FOTÓGRAFOS & MODELOS
Adoro imagem. Fiz, quando era graduando, uma disciplina de Fotografia na UFU (quando não existia máquina digital). Sempre gostei de fotos de belas mulheres (não necessariamente nuas).
A primeira Playboy que comprei foi em 1978, quando a “sexy symbol” daquele momento era Farrah Fawcett. Ela recusou posar nua para a revista. Só aceitou no final da vida, quando estava viciada em drogas e sofria de uma grave doença. Na época, deu uma entrevista desconcertante (drogada) na TV norte-americana. Entretanto, não deixou de ser o principal ícone feminino da década de 1970.
Neste período, a atriz Sandra Bréa, aqui no Brasil, era o símbolo de bela mulher. Foi casada com Antonio Guerreiro (que nunca considerei um grande fotógrafo). No “cenário das mulheres nuas”, J.R. Duran era imbatível no país. Nos Estados Unidos, eu gostava bastante do trabalho do Ken Marcus para a Playboy. Depois da década de 1990, surpreendentemente Ken Marcus começou a tirar fotos de BDSM (o trabalho ainda é bom, mas prefiro a fase anterior).
Voltando a Sandra Bréa, ela também teve um fim trágico: morreu de AIDS. Vi entrevistas dela no final da vida e fiquei impressionado em ver a maneira como ela falava da doença e a falta de rancor diante do que o destino havia lhe reservado.
As pessoas adoram falar mal do Sebastião Salgado. Inveja. Bobagem. Vi a exposição dele “Os Trabalhadores” no MASP na década de 1990. É o maior fotógrafo brasileiro (na minha opinião).
Fora do Brasil, não existe conversa: o melhor de todos é mesmo Henri Cartier-Bresson.
PELÉ, PASSADO, QUALIDADE E QUANTIDADE
Vi uma foto e lembrei do namoro da Xuxa com o Pelé. A Xuxa odeia "esse' passado... como se não tivesse participado dele ou como se alguém pudesse apagar o próprio passado ou partes dele.
A Xuxa tentou. Comprou as diversas revistas em que ela tinha posado nua (Playboy, Status, entre outras) e tentou proibir a circulação do primeiro filme em que, como atriz, ficava nua, seduzia e mantinha relações sexuais com um menino de 12 anos. O nome do filme era “Amor Estranho Amor”. Quanto aos ensaios das revistas, o melhor, na minha opinião, foi o da Status, quando ela posou com algemas, insinuando cenas de BDSM.
Muitas pessoas sofrem da “síndrome da Xuxa” e tentam apagar o que antes era considerado bom: o próprio passado. Em casos mais graves, essa insistência em negar a realidade pode tornar-se uma doença mesmo.
Não me enquadro neste perfil porque, entre outras coisas, sou historiador e o meu ofício estaria relacionado ao passado. Assim, não tenho problema nem com o passado de uma forma geral nem especificamente com o meu próprio passado.
Falando em passado, posso dizer que sou do tempo em que as coisas eram mais claras (não necessariamente melhores do que hoje) em termos de relacionamento, ou seja, namoro era uma coisa e amizade era outra, beijo “francês” envolvia língua(s), virgem era virgem (sim, sou antigo, bastante antigo...), sexo era sexo (o maior medo era a gravidez, não havia Aids e raramente alguém usava camisinha) e assim por diante.
Não existia o termo “ficar”, que é tão comum atualmente e pode significar quase qualquer coisa na medida em que é ambíguo e pretenderia dar conta de uma “área” muito ampla.
O resultado disto é que, depois de algum tempo e ouvindo comentários, descobri que “fiquei” com algumas pessoas que, efetivamente, imaginava que o que havia acontecido era comum em amizades, principalmente no final de noite, após um consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
No meu antigo vocabulário, algumas pessoas jamais entrariam no meu passado em outra categoria a não ser a de “amizade” mesmo (aliás, com todo respeito, diga-se de passagem).
Neste contexto, tive que ouvir (algumas vezes): “mas você falou que não tinha acontecido coisa alguma naquela noite...”
Na minha concepção, não havia mesmo. No entanto, para a outra pessoa, o mesmo fato seria interpretado de maneira diferente e... pronto... passei de amizade para a categoria de “ficante” no currículo amoroso da outra...
Não reclamo, mas é aquela velha piada (ou algo parecido): “se aquilo foi sexo mesmo, por favor, pelo menos me avise depois.”
Esse tipo de análise deve estar associado ao machismo.
É tão confuso, hoje em dia, que a pessoa não pode afirmar: “foi isso” e sim, com todo o cuidado, deve falar algo como o que apareceu agora (“deve estar associado ao”).
Na perspectiva machista mesmo (sem rodeios), o Pelé disse, uma vez, que havia feito sexo (e não “ficado”) com mais de mil mulheres.
Um dia, pensando nessas coisas, tentei “levantar” o meu currículo, mesmo tendo uma postura associada mais à qualidade do que ao quantitativo (como o rei Pelé).
Basicamente, pela memória, tentei fazer a minha lista. Nem de (muito) longe chegaria ao número do Pelé (nunca foi a minha intenção), mas achei que seria interessante pensar no meu passado em termos de relações sexuais.
Fiz a lista. Refiz. Pensava e lembrava de mais um nome (ou de uma situação, já que sou péssimo com nome).
Imaginava, no outro dia, que a lista estaria pronta. Nada. Sempre esquecia alguém.
O que era para ser um exercício mental (machista) saudável, claro, tornou-se um incômodo sobretudo quando eu lembrava do corpo, do rosto e da relação sexual e não lembrava o nome da pessoa. Isso sem contar na amnésia causada pelo excesso de bebidas alcoólicas ou outras substâncias.
OK. Desisti. Pelo menos no campo amoroso (mentira, é sexual mesmo), seria melhor deixar o passado no passado e, se for necessário, esperar pelo “telão do juízo final”.
FOFOCAS, BANALIDADES E MÉTODOS
Gostar de fofocas não é um erro. Acreditar nelas pode ser desastroso.
Desde sempre, de qualquer maneira, todo mundo fala de todo mundo. Não dá para levar a sério, claro. Pode ser divertido ou não.
Ser objeto (das fofocas) é outro problema – e que não será tratado aqui.
O que importa é saber (já que resolveu ouvir “aqueles segredos”) o que poderia ser verdade ou não.
Existe um método para isso. É uma mistura de análise de conteúdo com algumas técnicas de tortura (rsrs).
Os torturadores quando prendem mais de dois suspeitos costumam colocá-los em salas separadas e, claro, procuram monitorá-los ao mesmo tempo durante os interrogatórios.
Várias perguntas, várias mentiras, mais torturas, mas invenções e assim por diante.
A questão é que, em algum momento (depois de muita dor), os torturados, no universo de bobagens que conseguem inventar, “soltam” um ou outro fato verdadeiro. Aqui está a chave.
Se eles são monitorados ao mesmo tempo, quando aparece “algo em comum e diferente” no universo das mentiras, claro, trata-se de uma pista importante e que merece ser pesquisada (infelizmente, no exemplo citado, com mais e piores torturas).
Acontece algo parecido com as fofocas.
Não é relevante ouvir a mesma invenção contada por diversas pessoas em momentos diferentes. Isso foi feito de propósito e só os ingênuos acreditam no que, de fato, são boatos.
O que importa, ao ouvir tudo que todos comentam em diferentes momentos e lugares, é identificar dois ou três eixos que, indiretamente, aparecem nas histórias (quase que espontaneamente).
Isso acontece porque o boato para ganhar alguma veracidade, obviamente, precisa conter algo verdadeiro. Em outras palavras, inventar algo que o Pelé teria dito ou feito, com certeza, deveria aparecer na história, por exemplo, algo associado às loiras (ele namorou a Xuxa quando a apresentadora tinha 18 anos).
Voltando ao tal “método”.
O foco nos dois ou três eixos (diante do universo de mentiras contadas) permite identificar o perfil da pessoa em questão (ou parte do perfil). Sabendo quem realmente é a tal pessoa, fica mais fácil lidar com ela e não cair nas armadilhas e ilusões que eventualmente ela possa criar.
Outro exemplo. Muitas pessoas falam (até hoje) horrores a meu respeito. Inventam histórias. Constroem lendas. De alguma maneira, essas fofocas chegam a mim (talvez seja esse mesmo o objetivo).
Normalmente, um amigo preocupado vem me perguntar se realmente seria verdade a história que fiz “um striptease numa rave com mais de 2.000 pessoas em São Paulo”.
O tal amigo, primeiro, deseja me incomodar. Essa é a sua intenção inicial: gerar um mal estar no meu cotidiano (principalmente se ele perceber que estou feliz).
Em segundo lugar, o tal amigo precisa saber se a história seria verdadeira ou não, afinal, aquilo seria um divisor de águas, ou seja, ele não poderia ser associado a um sujeito que fez “um striptease numa rave com mais de 2.000 pessoas em São Paulo”.
Eu nunca fiz striptease (só para constar). Portanto, tal fofoca seria irrelevante no universo de mentiras que contam a meu respeito.
Agora, se o tal amigo que saber mais e “montar a minha ficha”, saberá mais e mais histórias e, se for esperto, poderá identificar os tais dois ou três eixos e, assim, percebendo o meu verdadeiro perfil, claro, poderá decidir se eu seria digno ou não de sua amizade.